Entende-se por inocência, em geral, a criança boba ou que não pecou contra a castidade. Reduz-se, assim, esta temática à prática do Sexto Mandamento.
Mas, inocência é só isso?
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“O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira” de autoria de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, Fundador e Superior Geral dos Arautos do Evangelho vem alcançando intensa repercussão no Brasil e no Exterior. Mons. João Clá oferece como testemunha a vida deste varão ímpar sob o prisma do desígnio de Deus sobre ele. Para conhecer a obra clique aqui )
Cremos ser toda utilidade para os nossos caros internautas apresentar alguns trechos dessa momentosa obra da qual são extraídos, condensados ou adaptados alguns temas, como o presente sobre a inocência.
Tenha em vista o caro internauta que tais trechos referem-se sempre ao Dr. Plinio, de quem Mons. João é um perfeito discípulo e continuador fidelíssimo.
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Entende-se por inocência, em geral, a criança boba ou que não pecou contra a castidade. Reduz-se, assim, esta temática à prática do Sexto Mandamento.
Mas, inocência é só isso?
.A questão é muito mais sutil do que a simples ausência de pecado. Deus dá à criança, já em seu nascimento, um conjunto de instintos e propensões que proporciona-lhe a capacidade de julgar e escolher sempre o melhor.
Contudo, dado a nossa natureza vulnerada pelo pecado original, esses princípios facilmente se adulteram. Com o Batismo, porém, a criança se torna templo do Espírito Santo, as graças começam a agir nela de maneira a favorecer sua atitude íntegra diante das coisas, evitando que ela siga sua má tendência de vê-las de modo não reto. ([1])
Assim, a inocência é a fidelidade à verdade dos juízos que a pessoa faz de acordo com os padrões primeiros dados por Deus.
O HOMEM NÃO TERIA O QUE DEUS DEU ATÉ ÀS PLANTAS E ANIMAIS?
Com efeito, como todos os seres viventes têm seus instintos, também o homem, além dessas tendências inerentes à natureza animal de seu corpo, possui inclinações próprias à alma racional, tão inerrantes quanto são certeiras e ordenadas as dos animais.
Se não é preciso ensinar às plantas a deitar suas folhas para cima a fim de receber a luz do sol, e se jamais uma formiga se engana, levando para o formigueiro um plástico que imita açúcar, nem um cachorro se equivoca, comendo um pedaço de pau pintado como osso, não era possível que Deus, tendo colocado o homem como rei da criação, o fizesse inferior às árvores, aos insetos, aos cães.
Ao contrário, deu-lhe princípios muito mais nobres e elevados, que estão em atividade mesmo antes do uso da razão.([2]) São eles:
- a noção de ser
- e a sindérese.
Pela noção do ser a alma humana tem, no contato com o mundo externo, a intuição do ser e da verdade das coisas. Ela percebe por instinto, e sem necessidade de explicar-lhe, que todo ser não pode ao mesmo tempo ser e não ser; e, portanto, que ela mesma é um ser distinto dos outros; que uma sineta, por exemplo, não é um elefante, ou que um relógio se distingue de uma mexerica. Assim, pela Inteligência, qualquer criancinha já nasce à procura da verdade íntegra, como a tartaruguinha, ao nascer, procura a água.
A sindérese — palavra vinda do grego — designa o hábito natural infundido por Deus pelo qual a criança, na sua mais tenra idade e apesar de nunca terem dito a ela o que é bem ou mal, propende para o bem, segundo o primeiro princípio da lei moral: “o bem deve ser feito e o mal deve ser evitado”.
Por exemplo, quando a criança conta uma mentira e a mãe lhe diz: “Você está mentindo!”, ela enrubesce. Por quê? Quem lhe ensinou que mentir é uma coisa má? Quem a instruiu de que a verdade deve ser amada?
Ela não aprendeu através de estudos, mas já tem gravada no fundo da alma a Lei de Deus, pela qual ela sabe como deve proceder e percebe que não podia ter mentido.
POR QUÊ O HOMEM ERRA?
A partir do momento em que o homem comete o pecado, passa a ser suscetível de erro porque sufoca esses princípios; mas, enquanto se mantém fiel, ele é inerrante.
Por isso, quando a criança vai maturando até ficar adulta, deve não apenas conservar, mas aprofundar e enriquecer a interpretação da realidade. Sua vida será uma decorrência de tais princípios aplicados dentro da inocência, até chegar à noção de Deus. É, portanto, na fidelidade aos primeiros princípios que ela vai se tornar inocente em sentido pleno.
O INOCENTE REAGE COMO DEUS, SENTE COMO DEUS…
Quando a criança tem a inocência como companheira inseparável, ela está sempre aberta aos panoramas sobrenaturais. Criada por Deus e para Deus, sua alma possui uma espécie de imã que a faz sentir-se atraída por Ele e ir à procura da verdade, do bem do belo e do unum ocultos por detrás das coisas que a rodeiam.
Então, o que ela conhece, apalpa, cheira, degusta, ouve ou vê a convida a transcender e ir além daquilo que os meros sentidos captam.
Ela se distrai, por exemplo, olhando uma formiga que transporta uma folha muito maior do que seu corpo e interiormente até sorri ao observá-la equilibrando-se com um esforço extraordinário; ela se delicia ao contemplar uma borboleta, ás vezes tão pequena que um colecionador a desprezaria. Tudo a encanta, tudo a maravilha, tudo a conduz a crer n’Aquele que tudo fez e a amá-Lo!
Esse prisma, pelo qual a criança considera os demais seres inclusive as outras pessoas, faz com que ela não se deixe arrastar pelas seduções do mundo nem pelas riquezas, e muito menos ainda por aquilo que a possa levar ao pecado contra a virtude angélica.
As coisas materiais lhe servem desde que facilitem a contemplação e o relacionamento com o Absoluto, ou seja, Deus.
Em suma, só o inocente toma uma postura correta e perfeita face a todas as criaturas, pois tem uma tal proximidade com Deus que pensa como Deus, reage como Deus, deseja como Deus, sente como Deus.
Pelo contrário, quem abraça as vias do pecado, perdendo a inocência, cria uma visão egoísta e subjetiva do universo pela qual analisa tudo que o circunda em função de si próprio e de acordo com seus interesses.
([1]) Cf. PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA, palestra (MNF), 28/12/1994, apud MONS. JOÃO SCOGNAMIGLIO CLÁ DIAS, “O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira”, Edição conjunta: Libreria Editrice Vaticana e Arautos do Evangelho, 2016, p.37.
([2]) Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica. I, q.79, a.12; I-II, q.94, a.2.
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