Aquela que antecede o Sol da Justiça

Se prestarmos atenção ao céu pouco antes da aurora, poderemos ver uma estrela a pouca altura do horizonte acima do ponto onde o sol despontará. Esse fato passa despercebido a muitos, pois nessa hora, ou ainda se dorme, ou já se está no corre-corre matutino.

Embora essa estrela não seja vista em todas as latitudes ou em todos meses do ano, a sua frequência fez a voz do povo chama-la de “estrela da manhã”. Terá isso algum simbolismo de algo mais alto?

Deus espalhou por todo universo — desde as estrelas imensas até os minúsculos seres — aquilo que São Tomás de Aquino chama de “vestígios” de Deus. O que representa esta “estrela matutina”? Como veremos, hoje, 8 de setembro, é bem o dia de falarmos disso.

É muito conhecida a bela expressão referindo-se a Nosso Senhor Jesus Cristo como o “Sol da Justiça”. Assim como a referida estrela aparece próxima ao horizonte indicando onde o sol nascerá, assim também o “Sol da Justiça” foi antecedido por uma estrela: Maria Santíssima.

Os escritores sagrados referem-se a esse fato nos seguintes termos: durante quatro mil anos os patriarcas, os profetas e os santos do antigo testamento suspiraram pela vinda do Redentor prometido a nossos primeiros pais (Gn 3, 15). Muitos dos livros do Antigo Testamento atestam o ardor dessa súplica. Apenas uma criatura, escolhida por Deus desde toda eternidade haveria de obter a vinda do Redentor: Maria Santíssima.

Segundo a tradição oral confirmada pelos Padres Apostólicos (que conviveram com os Apóstolos e discípulos), a Santíssima Virgem nasceu numa data do calendário judaico, que transposta para o calendário romano dá no dia 8 de setembro.

NASCE UMA LINDA MENINA

Neste feliz dia, aproximadamente no ano 15 a. C., Santa Ana deu à luz uma linda menina a qual recebeu o nome de Miriam (em latim “Maria”) que em hebraico, significa “Senhora soberana”. Segundo alguns pesquisadores, provém do sânscrito “Maryáh”, que quer dizer literalmente “a pureza, a virtude, a virgindade”.

Foi Maria escolhida por Deus para ser a Mãe de seu Divino Filho, Jesus, sendo concebida sem pecado original, cheia de graça — conforme a saudação do anjo Gabriel —, co-Redentora, medianeira universal de todas as graças. A Ela recebemos por Mãe, conforme as palavras de Jesus a São João Evangelista: “Filho, eis aí tua Mãe”. (Jo 19, 27)

GRANDEZAS DA “ESTRELA”

“Era necessário que a Mãe de Deus fosse também puríssima, sem mancha, sem pecado. E assim não apenas quando donzela, mas em menina foi santíssima, e santíssima no seio de sua mãe, e santíssima em sua concepção. Pois não convinha que o santuário de Deus, a mansão da Sabedoria, o relicário do Espírito Santo, a urna do maná celestial, tivesse em si a menor mácula. Pelo que, antes de receber aquela alma santíssima, foi completamente purificada a carne até do resíduo de toda mancha, e assim, ao ser infundida a alma, não herdou nem contraiu mancha alguma de pecado (…) Quer dizer, a mansão da divina Sabedoria foi construída sem a inclinação para o pecado”, ensina São Tomás de Villanueva. (1)

Escreve São João Eudes: “A gloriosa Virgem não apenas foi preservada do pecado original em sua concepção, como foi também adornada da justiça original e confirmada em graça desde o primeiro momento de sua vida, segundo muitos eminentes teólogos, a fim de ser mais digna de conceber e dar à luz o Salvador do mundo. Privilégio que jamais foi concedido a criatura alguma humana nem angélica, pertencendo somente à Mãe do Santo dos Santos, depois de seu Filho Jesus. […]

“Todas as virtudes, com todos os dons e frutos do Espírito Santo, e as oito bem-aventuranças evangélicas se encontram no coração de Maria desde o momento de sua concepção, tomando inteira posse e estabelecendo n’Ela seu trono num grau altíssimo e proporcionado à eminência de sua graça”. (2)

Nas palavras do grande doutor mariano, São Luís Grignion de Montfort, Maria Santíssima “é a obra-prima por excelência do Altíssimo, cujo conhecimento e domínio ele reservou para si. Maria é a Mãe admirável do Filho,(…) e a esposa fiel do Espírito Santo, onde só ele pode penetrar. Maria é o santuário, o repouso da Santíssima Trindade, em que Deus está mais magnífica e divinamente que em qualquer outro lugar do universo, sem excetuar seu trono sobre os querubins e serafins” (3)

 

(1) VILLANUEVA,  São Tomas de. Obras. 3. ed. Madrid: BAC, 1952. p. 210. Apud Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado, ACNSF, 2ª ed., 2010, p. 131.
(2) EUDES, San Juan. La Infancia Admirable de la Santísima Madre de Dios. Bogotá, 1957. p. 63 e 66. Apud Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP,  Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado, ACNSF, 2ª ed., 2010, p. 132.
(3) GRIGNION DE MONTFORT, São Luís Maria, “Tratado da verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, Ed. Vozes, Petrópolis, 47ª edição, 2018, nº 5.

 

Ilustrações: Arautos do Evangelho, Wiki

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