Maria Rainha

“(…) chegado à convicção de que seriam grandes as vantagens para a Igreja (…)com Nossa Autoridade Apostólica decretamos e instituímos a festa de Maria Rainha, para ser celebrada cada ano em todo o mundo”.

Com estas palavras o Papa Pio XII instituiu o que o coração de gerações de católicos ansiava: ver Nossa Senhora declarada Rainha. (1)

Por que este título? É apenas metafórico — como dizer que a rosa é a rainha das flores? Ou Maria Santíssima é realmente Rainha?

RAINHA POR NASCIMENTO

Maria Santíssima “nasceu Rainha, porque para tal foi predestinada ab æterno [desde toda eternidade], uma vez que foi eleita por Deus para a singularíssima e transcendental missão de Mãe [de Cristo] e Medianeira universal: os dois títulos fundamentais de sua realeza”.(2)

Ademais desta razão teológica, a Sagrada Escritura, logo na primeira frase do Evangelho assim inicia “Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1,1). Os Evangelhos não deixam a menor dúvida de que Jesus foi miraculosamente gerado pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria ( Mt 1, 20; Lc 1, 35) sem concurso humano de São José (embora fosse ele também descendente de Davi). (Mt 1, 2-16; Lc 3, 23-28).

Era conveniente — ou até necessário — que também São José fosse descendente do Davi, pois, perante a Lei judaica, o que conta é a ascendência paterna. Como, na aparência, Jesus era filho de José, convinha que este fosse descendente de Davi. Por isso, diz São Lucas: Jesus era “filho de José, como se julgava,” (Lc 3, 23).

Esse mesmo empenho leva São Mateus a expressar-se “Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus” (Mt 1, 16), Não diz, seguindo o modo dele enunciar os demais: “E José gerou Jesus”.

Coroação da Virgem – Velasquez

Desse modo quer se leve em consideração a Lei judaica, quer o fato real de que Jesus foi concebido em Maria pelo Espírito Santo, em ambos casos Jesus descende da estirpe real de Davi. (3)

RAINHA PELA PRÓPRIA ORDEM DO UNIVERSO

Jesus quis honrar toda a Criação, fazendo-se Homem, pelo fato de sermos um “resumo do Universo”: temos em nós minerais, vegetais (por ex. a flora intestinal), temos corpo sensível como os animais e uma alma espiritual à semelhança dos Anjos. Escolhendo o homem para a ele unir-se hipostaticamente honrava assim toda a Criação.

A um aspecto da natureza humana decaída, porém, Deus não podia unir-se: ao pecado (“fez-se semelhante a a nós em tudo, exceto no pecado”). Por esta razão escolheu uma Mãe imaculada, sem a mancha do pecado original.

Na ordem humana, o direito à realeza é herdado dos pais. No caso de Nosso Senhor, por ser Deus, essa comunicação se dá “às avessas”, ou seja, Nossa Senhora é Rainha pelo fato de ter gerado o Homem-Deus, Rei por sua vez de todo o Universo. Jesus, Rei do Universo é que lhe comunica a realeza. Entretanto, segundo os teólogos, na pré-ciência de Deus, Ela já era Rainha ao nascer, na previsão de que geraria o Rei dos reis.

RAINHA PELA GRAÇA

“Maria é a Rainha do céu e da terra, pela graça, como Jesus é o Rei por natureza e conquista”, afirma São Luís Grignion de Montfort.(4)

É ainda o mesmo santo que dá alguns dos privilégios decorrentes da realeza de Maria: “O Altíssimo a fez tesoureira de todos os seus bens, dispensadora de suas graças, para enobrecer, elevar e enriquecer a quem ela quiser, para fazer entrar quem ela quiser no caminho estreito do céu, para deixar passar, apesar de tudo, quem ela quiser pela porta estreita da vida eterna. E para dar o trono, o cetro, e a coroa de rei a quem ela quiser”. (5)

RAINHA DOS CORAÇÕES

“O reino da Santíssima Virgem está principalmente no interior do homem, isto é, em sua alma, e é principalmente nas almas que Ela é mais glorificada com seu Filho, do que em todas as criaturas visíveis, e podemos chamá-la com os santos a Rainha dos corações”. (6)

“Do que ficou dito, deve-se concluir evidentemente que:

Maria recebeu de Deus um grande domínio sobre as almas dos eleitos; pois Ela não pode:

  • estabelecer neles sua residência, como Deus Pai lhe ordenou;
  • formá-los, nutri-los, fazê-los nascer para a vida eterna, como sua mãe;
  • possuí-los como sua herança e partilha;
  • formá-los em Jesus Cristo e Jesus Cristo neles;
  • implantar em seus corações as raízes de suas virtudes; (…)

… se não tiver direito e domínio sobre suas almas, por uma graça singular do Altíssimo. E esta graça, que lhe deu autoridade sobre o Filho único e natural de Deus, lhe foi concedida também sobre seus filhos adotivos, não só quanto ao corpo, o que seria pouco, mas também quanto à alma”. (7)

SÚDITOS DA RAINHA

É de tal Rainha que temos a graça de ser filhos. Com que confiança devemos, portanto, nos dirigir a Ela, pedir-lhe ajuda e socorro em meio às dificuldades da vida.

Por outro lado, quanto devemos amá-La, reverenciá-La se queremos ser verdadeiramente filhos de Deus. Pois, como afirma São Luís Grignion, “não tem a Deus por Pai, quem não tem a Maria por Mãe”. (8)

“Toda devoção a Maria termina em Jesus, tal como o rio que se lança ao mar”. (9)

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(1) Pio XII, Encíclica #Ad Cæli Reginam, in Documentos Pontifícios, Ed. Vozes, Petrópolis, 1955, p. 11-17.

(2) Roschini, Gabriel, #“La madre de Dios según la fe y la teologia”, BAC, Madrid, 1955, vol. I, p.651. apud Royo Marín, Antonio, #“La virgem Maria: teologia y espiritualidade marianas”, BAC, Madrid, 1968, p. 215

(3) Cf. Jourdain, Z. -C. “Somme des Grandeurs de Marie”, H. Walzer, Paris, 1900, vol. III, p. 285-286. apud Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, “Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado”, Instituto Lumen Sapientiae, São Paulo, 2ª edição, Vol II, p. 169.

(4) São luís Maria Grignion de Montfort, “Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem”, Ed. Vozes, Petrópolis, 43ª edição, 2013, p. 44 (nº 38)

(5) Idem, p. 49 (nº 44)

(6) Idem, p. 44 (nº 38)

(7) Idem, p. 43 (nº 37)

(8) Idem, p. 37 (nº 30)

(9) Leo Joseph Card. Suenens, “Teologia do Apostolado da Legião de Maria”, s/d, apud Legio Mariae, manual edição 2006

Ilustrações: Arautos do Evangelho, Ed Retornarei, Wuki

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