O Reino de Maria, razão de esperança

No “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, São Luís Grignion prediz o advento do Reino de Maria, uma era na qual Nossa Senhora deve refulgir, “como jamais brilhou, em misericórdia, em força e graça” (nº 50). E o santo suspira: “Ah! quando virá este tempo feliz em que Maria será estabelecida Senhora e Soberana nos corações, para submetê-los plenamente ao império de seu grande e único Jesus?” (nº 217).

Ora, este célebre sacerdote francês menciona como um dos principais empecilhos à glorificação da Mãe de Deus, e ao reinado de Cristo por meio d’Ela nos corações, o fato de não ser Maria ainda suficientemente conhecida pelos fiéis.

Tal afirmação pode surpreender, uma vez que no início do século XVIII — quando ele escreveu seu famoso livro — o culto à Virgem Santíssima havia já atravessado os oceanos, tomado novas cores nas Américas, na África, na Índia, no Extremo Oriente, na Oceania, e dado origem a centenas de piedosas invocações a Maria.

Como interpretar, então, as palavras de São Luís Grignion?

Imagem de São Luís Grignion na   Basílica Vaticana

Por admirável desígnio divino, o Evangelho é muito parco em detalhes a respeito da Mãe de Jesus e foi no gradual desenvolvimento da doutrina católica que foram se revelando os maravilhosos predicados da obra-prima do Criador.

Entretanto, mais do que aos estudos dos sábios e doutores, isso se deverá à iniciativa dos fiéis, inspirados pelo Espírito Santo. Pois, segundo afirma um autor, “é como se todos os dogmas referentes a Maria tivessem sido confiados à custódia e explicitação do coração simples e fiel do povo cristão, em igual ou maior medida do que ao raciocínio da teologia especulativa” (*).

Foi, com efeito, a piedade popular que impulsionou — quase se diria exigiu —a proclamação dos dogmas da Imaculada Conceição e da Assunção. E em época mais recente também ocorreram as grandes aparições marianas, notadamente em Lourdes e Fátima.

Ora, tendo em vista o crescente papel da Mãe de Deus na vida da Igreja, cabe perguntar o que falta para que chegue o Reino de Maria, tão almejado pelo santo francês e por Ela prometido em Fátima ao proclamar: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará!”. Será alguma nova explicitação dos inefáveis atributos de Maria Santíssima que inflame e transforme os corações? Ou talvez a pregação profética de um novo São Luís Grignion?

Quiçá queira Cristo que a mais sublime das eras históricas não provenha de ação humana, mas tenha por causa imediata um pedido de sua Santíssima Mãe, deixando consignado para sempre o poder infalível de sua intercessão. “Eles não têm vinho!” (Jo 2, 3) — disse Maria a seu Filho nas bodas de Caná. E bastaram essas palavras para Ele realizar um estupendo milagre cujos efeitos ultrapassaram largamente aquela festa. Não terá esse humilde pedido transcendido também os umbrais do tempo, obtendo inimagináveis graças para os séculos futuros?

Não estará próximo o momento em que, para o advento de seu Reino, poderá Ela nos recomendar: “fazei tudo o que Ele vos disser”? Só o futuro no-lo revelará. O certo é que nossas almas se enchem de confiança e de entusiasmo quando postas nessa perspectiva.

 

(*) MARIN-SOLA, OP, Francisco. La evolución homogénea del Dogma católico.

 

(Compartilhado da revista Arautos do Evangelho, nº 113, maio de 2011, p.5.

 

Ilustrações: Arautos do Evangelho, Carl Tagen.

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