O Mons. João Clá, Fundador e Superior Geral dos Arautos do Evangelho, no texto que veremos a seguir, nos proporciona a solução de algo central em nossa vida.
Quase sempre, quando perguntamos a alguém se ama a Deus, a resposta é invariavelmente afirmativa. Porém, poucas vezes perguntamos a nós mesmos se O amamos de todo nosso coração, de toda nossa alma, como prescreve o próprio Deus. (Dt 6,5)
“A medida de amar a Deus é amá-lO sem medida” ensina São Francisco de Sales. Não podia ser de outra maneira, pois a Deus tudo devemos: Ele nos tirou do nada, nos sustenta cada dia, nos redimiu pela morte de seu Filho, Jesus; a cada instante põe à nossa disposição graças para sermos o que devemos, nos oferece os Sacramentos, o perdão desde que nos arrependamos e… a lista não teria fim…
As considerações do Mons. João Clá serão muito úteis àqueles que querem retribuir amor por amor, como diz Santa Teresinha: “Eu sei Jesus que amor com amor se paga” ⁽¹⁾
AMOR COM AMOR SE PAGA (*)
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Se tivéssemos uma noção do amor que o Criador tem por cada um de nós, talvez fôssemos capazes de avaliar com exatidão a medida com que devemos amá-Lo. Mas, sendo Deus a Humildade em substância, Ele frequentemente não mostra a mão quando intervém nos acontecimentos, para nos converter ou nos sustentar na fé. Deste modo, corremos o risco de formar uma ideia muito irreal da solicitude divina em relação a nós.
Somos, por exemplo, católicos, apostólicos e romanos, e pensamos ter sido nossa adesão à Religião verdadeira fruto de uma decisão motivada pela superioridade desta sobre as outras crenças. Ou seja, julgamos termos sido nós mesmos os que escolhemos a Deus, quando, pelas nossas próprias forças, jamais seríamos capazes nem sequer de praticar de forma estável os Dez Mandamentos.
A INICIATIVA PARTE SEMPRE DE DEUS
No referente à nossa conversão, é sempre o Criador quem toma a iniciativa. Foi Ele que nos criou, Ele que nos escolheu para fazermos parte da Igreja e é Ele quem nos dá as graças indispensáveis para segui-Lo.
Desde toda a eternidade, manifestou uma predileção gratuita por cada um de nós ao nos escolher entre as infinitas possibilidades de criaturas humanas que existem no divino Intelecto. E, podendo nos ter destinado a uma felicidade puramente natural, quis que as criaturas inteligentes participassem de sua própria vida, como bem põe em realce o Pe. Arintero: “Por um prodígio de amor que jamais poderemos devidamente admirar, e muito menos agradecer, dignou-Se sobrenaturalizar-nos desde o princípio, elevando-nos nada menos do que à sua própria categoria, fazendo-nos participar de sua vida, de sua infinita virtude, de suas peculiares ações e de sua eterna felicidade: quis que fôssemos deuses”. ⁽²⁾
Ao nos criar, Deus dotou cada um com uma vocação única, específica e irrepetível, seja religiosa ou laical. E, ao longo de toda a nossa existência nos dá, ademais, graças maiores ou menores, mas sempre suficientes para a nossa salvação eterna.
Mais ainda. Tendo o homem caído em pecado no Paraíso, Deus poderia ter feito com que ele voltasse ao nada, arrependido de havê-lo criado, ou usar inúmeros caminhos para reparar a falta cometida. Pois sendo Ele ao mesmo tempo Juiz e Ofendido, nada O impedia de perdoar a dívida contraída sem nada demandar em desagravo.
DEUS QUER NOS COMUNICAR SUA PRÓPRIA VIDA
Porém, exigindo a sua honra infinita uma reparação à altura, Deus, numa indizível manifestação de amor, impossível de ser cogitada sem o pecado dos nossos primeiros pais, resolveu entregar o seu próprio Filho à morte para nos dar a vida, como proclama São João:“Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu único Filho ao mundo para que tenhamos a vida por meio d’Ele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como oferenda de expiação pelos nossos pecados” (I Jo 4, 9-10).
Encarnando-Se e passando pelos tormentos da Paixão, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade trouxe para nós um verdadeiro oceano de graças, “uma inefável comunicação amorosa e livre, mas íntima e inconcebível, da vida divina às criaturas racionais, por onde o sobrenatural e o natural, o divino e o humano se juntam, se harmonizam e se completam, sem que por isto se confundam!”. ⁽³⁾
Tal é, em grandes traços, o amor de Deus por cada um de nós.
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⁽*⁾ Título da redação deste post.
⁽¹⁾ (Cf. Obras Completas, Paulus, 2002)
⁽²⁾ GONZÁLEZ ARINTERO, OP, Juan. La Evolución Mística. Madrid: BAC, 1952, p.59.
⁽³⁾ Idem, p.55.
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(Transcrito de “O inédito dos Evangelhos”, de autoria do Mons. João Scognamiglio Clá Dias, Libreria Editora Vaticana, 2014, Vol. III, p. 243-245. Publicado também na revista “Arautos do Evangelho”, nº 125, maio de 2012, p.11-12. Para acessar o exemplar do corrente mês clique aqui )
Ilustrações: Arautos do Evangelho