Quando Deus quis reservar um povo para Si, chamou Abraão, e tendo-Se assegurado de sua fidelidade, fez dele o depositário da Aliança (cf. Gn15, 18). Este modo de proceder obedece a um princípio de sabedoria utilizado por Deus em sua atividade de governar: sempre que quer realizar uma obra, chama alguém para junto de Si e confia-lhe a execução de seu plano.
Em virtude da aliança assim estabelecida, resulta uma tal união entre Deus e o seu escolhido que Ele Se torna um com este: a aliança selada no alto do Sinai se deu entre Deus e Moisés (cf. Eclo 45, 8); a rejeição de Moisés, por parte do povo (cf. Nm 14, 2), foi sentida por Deus como sendo contra Ele mesmo (cf. Nm14, 11); e a aliança entre Javé e Israel foi de tal forma concedida em função de Moisés que Deus Se dispôs a dar-lhe outro povo, quando este se revoltou (cf. Ex32, 10). Por outro lado, quem se unia a Moisés se tornava partícipe da união deste com Deus, como aconteceu com Josué: “Estarei contigo como estive com Moisés” (Js 1, 5). Temos outros exemplos de alianças em Noé (cf. Gn 6, 18), Gedeão (cf. Jz 6, 16), Davi (cf. II Cr 21, 7), Isaías (cf. Is 42, 6) e tantos outros…
Assim, para a realização de seus grandes planos, Deus torna grandes certos homens ao investi-los de uma grande missão. No Antigo Testamento, eram os profetas e os juízes; no Novo Testamento, são os homens providenciais e os fundadores.
É, por exemplo, um São Francisco de Assis, visto em sonho pelo Papa Inocêncio III, sustentando o edifício da Basílica de São João de Latrão como um símbolo da importantíssima missão de esteio que ele desempenharia no seio da Igreja. É, também, um São Domingos, um Santo Inácio, um São Vicente de Paulo ou um São João Bosco… Todos eles, cada um a seu modo, são homens que trazem do Céu a resposta de Deus aos problemas de seu tempo. Sobretudo, a estes instrumentos do Espírito Santo cabe servir de pretexto para a Igreja militante poder, ao longo de sua peregrinação na Terra, manifestar à História novas luzes e novas maravilhas que, até então, estavam ocultas em seu interior.
Aos profetas do Antigo Testamento se exigia — por indicação de Moisés— que um milagre ratificasse a origem divina de sua mensagem (cf. Dt 18, 21-22). No Novo Testamento, entretanto, a santidade do homem providencial, sua integridade de vida e sua fidelidade à vocação recebida de Deus são as testemunhas mais autênticas da divindade de sua missão.
A Igreja é imortal (cf. Mt 16, 18), mas, sendo uma sociedade visível, precisa ter membros (cf. Ef 4, 11-12), verdadeiros filhos, nos quais se manifeste essa promessa feita por Cristo. Deus chama a quem Ele quer (cf. Rm 9, 16) para amparar sua Igreja; e, ao agir desta forma, faz com que a imortalidade dela passe por aqueles que são chamados a protegê-la.
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(Transcrito da revista “Arautos do Evangelho”, nº 160, de abril de 2015, p. 5. Para acessar o exemplar do corrente mês clique aqui )
Ilustrações: Arautos do Evangelho, Wiki
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