O Menino Jesus na manjedoura, a estrela dos Reis Magos, a noite silenciosa imortalizada pela canção. Tudo nos fala de recolhimento, de tranquilidade para pensar.
Em meio ao frenesi da agitação moderna, e-mails para abrir, celular a tocar, o Natal bem pode ser – desde que se queira – um oásis de paz no qual podemos refletir sobre que atitude tomar face ao caos que nos envolve. Nesse sentido bem podemos afirmar que o maior presente a receber neste Natal seja a Luz. Essa Luz (com maiúscula) é o próprio Recém Nascido: “a luz brilhou nas trevas” nos diz São João no início de seu Evangelho.
Pareceu-nos, por isso, de grande utilidade fazer chegar aos nossos visitantes as considerações que se seguem. (*)
Pouco depois de Pentecostes, um ministro etíope, homem instruído, no caminho de volta de Jerusalém para seu país, lia o profeta Isaías. Encontrando-se com São Filipe, e ao ser-lhe perguntado se entendia o quanto lera, respondeu o etíope: “Como é que posso, se não há alguém que mo explique?”(At 8, 31).
Como ele, todos temos necessidade de ser instruídos, sobretudo a respeito das verdades eternas. Para isto, Deus constituiu seu Filho como Mestre, e nunca deixou de suscitar, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, almas providenciais que pregassem aos homens a conversão (cf. Lc 16, 29): Moisés, Elias, João Batista, o diácono Filipe, São Paulo… Desde então, e até hoje, sempre haverá na Terra alguém destinado a afirmar diante do mundo que “há um Deus em Israel” (II Rs 1, 3). Ademais, Deus constantemente fala no nosso interior, por meio da consciência que, a serviço da lei moral, nos indica o rumo certo.
A verdade, portanto, nos é sempre apresentada. Logo, nosso problema consiste em ter os ouvidos dispostos a aceitar a voz de Deus.
Não fazê-lo é a pior desgraça. Além de ocasionar a queda no pecado, deformara mente e apodrecer o coração, fechar os ouvidos a essa voz distorce a consciência, que Deus pôs em nossa alma para nos afastar do mau caminho. Sem o recurso a rever cuidadosamente cada passo, conferindo-o com a vontade de Deus, o desvio só tende a aumentar. A alma, entregue à própria subjetividade, perde paulatinamente o senso da direção para a eternidade, chegando até a negar que haja um rumo certo e um rumo errado, sob pretexto de “seguir sua consciência”.
Ora, a consciência não é a última instância da lei moral, mas apenas um auxílio para acertar nossa vontade com a de Deus (cf. São João Paulo II. Dominum et vivificantem, n.43). Deformá-la à força de pecar equivale a agir como o capitão de um barco que altera sua bússola para marcar a direção por ele desejada. Os arrecifes, contudo, nem por isso mudarão de posição. E, salvo milagre, o navio acabará por soçobrar, como soçobrará diante do Juízo de Deus o homem que tiver guiado seu percurso na Terra pela bússola de sua própria “lei moral”. “Não queiras torcer a vontade de Deus para acomodá-la à tua”, ensina Santo Agostinho, “mas corrige a tua para acomodá-la à vontade de Deus” (Enarratio in psalmum CXXIV, n.2).
Logo, se a conversão consiste em colocar em prática a Palavra de Deus (cf. Mt 7, 21), é preciso, antes de tudo, ter o ouvido do coração aberto para escutá-la. E, ao fazê-lo, saber distinguir se ela vem do Pastor ou do ladrão (cf. Jo10, 1‑5), se pertence a Cristo ou ao diabo.
“Minhas ovelhas ouvem a minha voz, Eu as conheço e elas Me seguem”, diz Jesus (Jo 10, 27). Existem, pois, ovelhas, que escutam a palavra de outros “pastores”. Afinal, a vontade do homem sempre permanece livre… inclusive para forjar sua própria desgraça.
(*) Editorial da revista Arautos do Evangelho, nº 202, janeiro de 2015, p.5. Para acessar o exemplar do corrente mês clique aqui )
Ilustrações: Arautos do Evangelho
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