O comum das pessoas, na Semana Santa, lembra-se apenas do Domingo de Ramos e, na Quinta e Sexta-feira Santas, a Última Ceia, e a Paixão de Jesus.
O que ocorreu nesse período, desde as aclamações de domingo e os brados “Crucifica-O! Crucifica-O!” poucos dias depois?
Após a entrada sob a aclamação “Hosana ao Filho de David; bendito o que vem em nome do Senhor”, Jesus dirigiu-se ao Templo (1), demorando-se o suficiente para ver os átrios sagrados novamente repletos de cambistas e vendilhões, os quais Ele já havia expulsado anteriormente. Como já começasse a anoitecer, Jesus retirou-se com os discípulos.
Segunda-feira cedo, o Mestre dirigiu-se novamente ao Templo, onde, sob os aplausos dos fiéis, expulsou pela segunda vez os vendilhões, profanadores do lugar sagrado.
Os príncipes dos sacerdotes, os escribas e fariseus, contemplaram com ódio este ato de soberana autoridade de Jesus. Há dois meses O haviam excomungado e decretado sua morte. Perguntavam-se a si mesmos: como ousava um excomungado exercer sua autoridade no Templo, do qual eles eram eles os guardiães e, mais ainda, exercê-la sob os aplausos do povo?
Convém lembrar que, sendo vésperas da Páscoa, judeus, não só de Israel, mas de terras longínquas, enchiam o Templo e Jerusalém. O Divino Mestre utiliza-se dessa circunstância para proferir seus últimos ensinamentos e realizar seus últimos milagres. Essa atuação de Jesus no Templo durará três dias: segunda, terça e quarta-feira seguintes ao Domingo de Ramos. Jesus ali pregou e curou à vista desta multidão… e dos sacerdotes, escribas e fariseus furiosos, mas impotentes, pois Jesus falava e curava “como quem tem autoridade”.
Conhecendo a proximidade de sua morte, Jesus, nestes três dias proferiu várias de suas parábolas. Os fariseus, mestres da lei e escribas, fazem-Lhe perguntas capciosas, às quais Ele responde com divina Sabedoria, deixando evidente a má-fé deles. Desse modo o Divino Mestre predispõe a multidão que o aplaudia, a ouvir a condenação que fará dos fariseus, sacerdotes e escribas.
Jesus, Bom Pastor e Juiz Eterno
Jesus, o Bom Pastor, de voz branda e carinhosa, toma seu aspecto de Juiz Eterno e profere as acusações, assim iniciadas: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas!” E enumera as hipocrisias dessa “raça de víboras” (Mt 23; Mc 12, 38-44; Lc 20, 45-47; 21,1-4). Era uma última tentativa de Jesus, convidando esses hipócritas a reconhecerem os seus erros e aceitarem-No como o Messias.
Na tarde da terça-feira, calados e confundidos, os escribas, fariseus e sacerdotes retiram-se para não serem mais humilhados e para tramarem como prender e matar Aquele que “passara a vida a fazer o bem”. Entretanto, o Divino Mestre só os increpou após as várias parábolas tê-los chamado a se dar conta do estado lamentável em que estavam e converterem-se.
Eles não podiam desconhecer as cerca de 245 profecias (2) contidas no Antigo Testamento, apontando aquela época como a que devia vir o Messias. Os milagres feitos por Jesus também são previstos nestas profecias.
Já no nascimento de Jesus, interrogados por Herodes esses mestres da Lei indicam que o Messias nasceria em Belém.
Jesus prevê a destruição de Jerusalém e a dispersão dos judeus
Silenciados os inimigos hipócritas, Jesus dirige-se à multidão prevenindo-os para a destruição de Jerusalém “durante aquela geração”, as atribulações por que deviam passar seus seguidores, e dá os sinais que antecederão o Juízo Final. Entre as várias parábolas, dá a esse propósito, a das virgens prudentes e das virgens imprevidentes.
Por fim anuncia “dentro de dois dias, será crucificado”. Era terça-feira à tarde.
As trinta moedas
Nesse momento o Sinédrio — tribunal dos sumos sacerdotes — reunido para deliberar como podiam prender Jesus longe da multidão, recebe uma visita inesperada: Judas. O traidor vende os seus “serviços”, comprometendo-se a indicar com precisão onde e quando estaria Jesus, sem o risco da presença da multidão que — como temia o Sinédrio — impedisse sua prisão.
Acertado o preço — 30 moedas de prata: o valor de um escravo — Judas desse momento em diante vai juntar-se aos Apóstolos que acompanhavam Jesus, à espreita de saber a hora e local adequada a seu crime.
Durante a Última Ceia e instituição da Eucaristia, afinal, Judas tem os dados que precisa e ouve do Divino Mestre: “o que tendes que fazer, faze-o logo”. Judas sai para buscar os soldados e prender seu Mestre.
Começava a Paixão de Jesus.
.
(1)A sequência dos fatos é tirada da magnífica obra “Jesus Cristo – Sua Vida, sua Paixão, seu Triunfo”, do Pe. AUGUSTIN BERTHE, CSSR, Ed. Civilização, Porto, 2008. As primeiras edições dessa obra foram publicadas por Benzinger & Co, Editores da Santa Sé.
(2)Cf. WILLIAM THOMAS WALSH, “O Apóstolo São Pedro”, Ed. Civilização, Porto, 2000, p. 87.