Devido a coincidência com a Semana Santa, a Igreja comemorou neste último dia 16, a Anunciação do Anjo e a Encarnação de Jesus no seio virginal de Maria Santíssima. Quantas vezes muitos de nós rezamos o terço sem meditarmos um pouco no significado do mistério contemplado em cada dezena…
A Anunciação e Encarnação constituem acontecimentos dos mais altos de toda a História: o Filho de Deus se fez homem e habitou entre nós. É o início da história da Redenção concluída com a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.
Vejamos um dos aspectos deste mistério.
A HUMILDADE DE NOSSA SENHORA E A ENCARNAÇÃO
Durante a permanência da Virgem Maria no Templo, onde passara a viver desde os quatro anos, em suas altíssimas meditações tornou-se bem claro para Ela a infinita santidade de Deus e portanto a “distância” que A separava da perfeição divina. Maria Santíssima contemplando o Criador, sentia a própria pequenez, embora fosse a mais excelsa das criaturas, superior mesmo aos mais altos Anjos.
Por mais elevada que é, Maria considerava-se, como diz São Luiz Grignion de Montfort, “menos que um átomo, um nada, pois só Ele [Deus] é ‘Aquele que é’ (Ex 3. 14)” ⁽¹⁾. Qualquer ser criado, mesmo o maior deles, é finito, limitado, face a Deus, infinito, eterno e todo poderoso.
Por outro lado. Nossa Senhora conhecia a promessa divina de que o Messias nasceria de uma descendente de Davi — e Ela o era —, mas devido a sua profunda humildade, julgou que jamais poderia ser antepassada do Messias e, menos ainda, a própria Mãe d’Ele. Por esta razão fez o voto de virgindade, renunciando deste modo a estas altíssimas dignidades.
Observe-se que entre as moças descendentes de Davi, era um ponto de honra casar-se: “A espera do Messias dominava a tal ponto os espíritos, que o desprezo do casamento equivalia a uma recusa desonrosa de contribuir para a vinda d’Aquele que havia de restaurar o reino de Israel” ⁽²⁾.
Foi essa renúncia por humildade, uma das causas da atitude de Maria ao aparecer-lhe o Anjo, saudá-La e anunciar-Lhe que conceberia o Messias.
A humildade de Maria, renunciando à maternidade ao fazer o voto de virgindade, levou Deus a dar-Lhe o maior dos privilégios concedidos a uma mulher: ser Mãe do Messias, Jesus, o Filho de Deus.
Vê-se ainda a humildade de Maria na sua atitude ao aceitar o desígnio de Deus: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).
Aqui também ocorre o mesmo: a humildade de Maria, declarando-se “escrava do Senhor”, leva Deus feito homem a depender d’Ela para ser gestado, amamentado, ninado, etc, quando pequeno, e, mesmo já crescido o Evangelho afirma: “era-lhes submisso” (Lc 2, 51). Ainda nesse sentido, lembremos que Jesus conviveu trinta anos com Nossa Senhora, e dedicou apenas três à sua missão pública.
Em contraste com essas cogitações, hoje, sob a capa de uma pretensa liberdade, que não passa de escravidão ao pecado e às paixões desordenadas, uma multidão de homens se ufana em escolher o caminho da desobediência aos Mandamentos e conselhos do Senhor. E, cabe perguntar, não será essa uma das causas mais profundas da rápida deterioração do mundo atual?