A natureza encerra belos enigmas. Mas, para quem a sabe contemplar, ela revela também alguns mistérios divinos. Na beleza deslumbrante das auroras boreais, por exemplo, podemos discernir o modo de agir de Deus com os homens.
Vejamos, pela pena de um sacerdote Arauto do Evangelho — Pe. Ryan Murphy, EP — nascido no longínquo Canadá a descrição de algo bem diferente das terras tropicais em que habitamos.
AURORA BOREAL, SUAVE MISTÉRIO DIVINO
Pe. Ryan Francis Murphy, EP
Observando a natureza, o homem, por mais materialista que seja, não pode deixar de meditar nos aspectos simbólicos das coisas criadas por Deus.
Em toda parte encontramos reflexos de suas virtudes. Aqui, a beleza e a mansidão; lá, a grandeza e o esplendor. Porém, ao percorrermos as longas vias terrestres e marítimas que se espalham pela superfície de nosso orbe, alguns lugares nos despertam uma certa curiosidade quanto ao proceder divino.
Por exemplo, na floresta equatorial, o Altíssimo manifesta-se como que enfurecido. Tempestades de violência inaudita desabam inesperadamente, pondo animais em fuga e abatendo árvores sob o furor dos raios. Nos desertos, o calor tórrido racha as pedras, resseca as fontes e faz desaparecera vida. E nas desoladas planícies da tundra ártica, onde o gelo se estende a perder de vista, o frio cortante faz parecer que Deus voltou as costas e esqueceu aquela parte do mundo…
Mesmo vendo tudo isso, porém, não há razão para sobressaltos, pois nosso Deus não é cruel. Toda vez que Ele permite alguma dificuldade, logo depois oferece alguma forma de dom, para consolar o sofrimento passado.
A mesma tempestade que sacode a floresta a torna fecunda e senhora das mais variadas e vibrantes formas de vida do planeta. O calor do deserto racha as pedras, mas é nesse ambiente árido que nascem as mais raras e belas flores.
Mas não nos esqueçamos das gélidas planícies polares com suas monótonas superfícies brancas e infindáveis, o assobio constante do vento, o frio quase inimaginável. Habitantes? Pouquíssimos animais que compartilham aquela desolação com um punhado de melancólicos seres humanos. É, propriamente, a figura do isolamento.
Que espécie de compensação, ou melhor, consolação poderia Deus oferecer para essa região do mundo?
Para vê-la, é preciso, literalmente, voltar os olhos para o céu… Alguns a chamam de “Asa dos Anjos”, outros, de “Manto de Nossa Senhora”, enquanto ainda outros, de “Vento do Espírito Santo”.
São as incomparáveis auroras boreais, tão frequentes no meu país, o Canadá. Nunca vi nada, absolutamente nada que, sendo natural, transmita tanto a ideia do sobrenatural quanto essas maravilhosas “Luzes do Norte”.
A aurora boreal é silenciosa, embora muitas vezes se estenda por milhares de quilômetros de comprimento e altura. Percebemos que ela se move alto, muito alto, mas, se nos perguntam onde está, não sabemos dizer com precisão. É imprevisível. Suas mudanças de direção podem ser súbitas ou suaves, e a fantástica gama de suas cores iridescentes vai do vermelho ao azul, passando por matizes de violeta e branco. É impossível descrever essas tonalidades.
Depois de vê-la, li explicações científicas sobre partículas energéticas que o vento solar faz chocar contra a atmosfera terrestre, mas fechei decepcionado o livro. Esses elétrons carregados não conseguem explicar aquilo que vi e senti ao contemplar o extraordinário fenômeno.
A muitos homens de hoje, acostumados à velocidade cibernética, pode parecer insensato deter-se para contemplar um tão belo fenômeno da natureza, recolher-se diante dele e meditar. Talvez por isso as fantásticas auroras boreais se mostrem especialmente generosas com aqueles poucos homens que vivem isolados nas vastidões geladas dos extremos árticos.
Não agirá também Deus de modo semelhante às auroras boreais? Não é verdade que só para quem se recolhe e busca o salutar isolamento da meditação Ele faz ouvir os suaves acordes de sua voz eterna e dá aprovar as delícias de sua infinita sabedoria?
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(Originalmente publicado na revista “Arautos do Evangelho”, nº 62, fevereiro de 2007. Para acessar o exemplar do corrente mês clique aqui )
Ilustrações: Arautos do Evangelho, wiki, wordpress.