Eram séculos de Fé. E por isso de heroísmo, de santas e ousadas aventuras.
Num desses lances, a esquadra de Cabral descobre o nosso Brasil, que era, na expressão de Pero Vaz de Caminha uma “terra chã e formosa” portadora de enormes esperanças para o futuro.
A maneira como o escrivão da armada encerra sua carta ao Rei mostra quanto a Fé dava alento a essas esperanças:
“… o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar”.
As “sementes” logo chegaram: missionários de várias ordens, especialmente jesuítas.
53 anos depois chegava ao Brasil Duarte da Costa, segundo Governador Geral. Com ele vieram dois personagens que podem ser considerados as pedras fundamentais de nossa Pátria: Padre Nóbrega e o noviço — com apenas 19 anos — José de Anchieta, a quem, hoje, com imensa alegria e gratidão, podemos chamar #São José de Anchieta.
Nascido em Tenerife, nas ilhas Canárias a 19 de março de 1534, festa de São José — cujo nome lhe foi dado no Batismo —, ainda adolescente foi estudar em Portugal, na Universidade de Coimbra e logo a seguir no Colégio dos jesuítas para cuja ordem entrou como noviço aos 17 anos.
ÉPOCA CONTURBADA
Essa época foi especialmente conturbada: uma profunda revolução cultural e religiosa iniciada na Renascença afastara os homens da verdadeira fé, culminando com a revolta protestante. Até então a religião instituída por Jesus Cristo vivificava toda a Cristandade. A Renascença e a “reforma” protestante causaram devastações e guerras por toda Europa.
Por esta mesma época Espanha e Portugal cuidavam, no dizer de ilustre historiadora (*), de “dar mundos ao mundo”, de abrir à ação benfazeja da Santa Igreja, continentes inteiros: as Américas, a África subsaariana, a misteriosa e lendária Índia, etc.
As naus colonizadoras traziam missionários para evangelizar e civilizar povos ainda desconhecidos. E aqui começam a surgir “as novas Cristandades”.
DOENÇA E OBEDIÊNCIA
Pouco depois de emitir os votos religiosos que o tornavam definitivamente jesuíta, Anchieta foi acometido de uma doença na coluna que o deixou um pouco corcunda pelo resto da vida. Os médicos aconselharam aos superiores que o fizessem ir para o outro lado do Atlântico.
Veio então Anchieta para a terra considerada na época como boa estação de cura: o Brasil. Acompanhava o Pe. Manuel da Nóbrega, novo Provincial destas terras.
Da Bahia, constituída sede do Governo Geral, o Pe. Nóbrega e Anchieta partiram para São Vicente, no litoral paulista.
A PROVIDÊNCIA TEM SEUS PLANOS…
As três naus em que viajavam enfrentaram violenta tempestade no litoral sul da Bahia, tendo o navio no qual Anchieta viajava encalhado devido à fúria dos ventos.
A Providência, porém, ali enviava Anchieta, pois encontrou gravemente doente um menina índia que logo aceitou a religião católica e foi batizada. Era Cecília, a primeira índia a receber o sacramento das mãos de Anchieta. Viu o santo nesse fato a mão divina, coisa que aconteceria inúmeras vezes em sua vida nas terras brasileiras.
Retomaram a viagem, chegando pouco depois a São Vicente.
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UM DOM DE DEUS
Anchieta tinha o dom natural de fácil comunicação, porém, muito maior era seu zelo pela salvação das almas, o que o tornou logo amigo dos indígenas e dos colonos.
Foi pouco depois de sua chegada enviado a subir a Serra do Mar chegando ao planalto de Piratininga e ai fundando o Colégio e a aldeia de São Paulo, hoje uma das maiores cidades do mundo.
Menos de seis meses após a sua chegada, já falava a língua dos índios e fundara um seminário. Para facilitar a evangelização dava aos índios aulas de português e latim e aos irmãos jesuítas ensinava a língua dos índios.
Á noite, quando todos dormiam, escrevia manuais para os alunos, um dicionário da língua tupi e um tratado sobre a flora, a fauna e o clima da capitania de São Vicente.
PRESERVOU A FÉ E A UNIDADE NACIONAL
Em 1555 os franceses calvinistas invadiram o Rio de Janeiro.
Anchieta participou ativamente da expulsão dos invasores, e, para tal foi de grande valia a confiança que os índios tinham nele. Animava os combatentes brasileiros comandados por Estácio de Sá, junto ao qual esteve nas últimas batalhas. Foi então fundada a cidade do Rio de Janeiro.
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Com sua profunda, fé e ardor em evangelizar e civilizar, percorreu a pé, a cavalo, ou em embarcações, boa parte do imenso território brasileiro.
Agia em todos os setores do tecido social e religioso da nascente nação. No campo religioso, ele exerceu o cargo de provincial Companhia de Jesus entre os anos de 1577 a 1587.
O trabalho de Anchieta foi decisivo para a implantação do catolicismo no Brasil, além de contribuir para manter unificado o país naquela época e nos séculos seguintes.
APÓSTOLO ARDOROSO E FECUNDO ESCRITOR
Anchieta deixou sua marca também no campo cultural contribuindo fortemente para a formação da nascente literatura brasileira. Além de suas cartas, sermões e poesias, escreveu uma Gramática da língua tupi, idioma que ele dominava perfeitamente. É famoso também seu “Poema da Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus”, com mais de 5.000 versos, escrito originariamente nas areias da praia de Iperoig. Nele manifesta não só a erudição e estro do poeta, mas, refulge a devoção e amor Virgem Maria. Outra obra sua, é “A gesta de Mem de Sá” em que enaltece os feitos do Governador Geral Mem de Sá.
Compôs também peças de teatro de cunho religioso e formativo, para uso na catequese dos índios.
MISSIONÁRIO, HERÓI, E SANTO
Para os índios, ele foi médico, professor, amigo e defensor. Tornou-se o elo de ligação dos índios e colonos com os missionários jesuítas, mas foi sobretudo sacerdote. Cuidava das doenças e feridas das almas, da espiritualidade de todo o povo.
Por tudo isso é merecidamente conhecido como o “Apóstolo do Brasil”.
Aos 63 anos, a 9 de junho de 1597,faleceu no povoado que ele mesmo havia ajudado a edificar em 1569: Reritiba (atualmente Anchieta), no Espírito Santo. Foi beatificado em 1980,e canonizado em 3 de abril de 2014.
Hoje, 9 de junho de 2014 a Igreja o celebra pela primeira vez em todo o mundo.
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(*) Elaine Sanceau, autora de inúmeras obras spbre as navegações portuguesas, Editora Civilização, Porto.
Crédito das Ilustrações: Arautos do Evangelho, Pinacoteca Nacional, Fename, WordPress.
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