“Eu já vi outros ventos, já afrontei com o mesmo ânimo outras tempestades” esta conhecida frase de Cícero bem poderia aplicar-se à Igreja Católica. Com efeito, nestes quase 2.000 anos passou Ela por momentos difíceis. E a pessoa se pergunta: o que dá essa vitalidade à Igreja? O texto do Mons. João Clá, Fundador e Superior Geral dos Arautos do Evangelho da resposta a essa interrogação.
O ESPÍRITO SANTO, ALMA DA IGREJA
Mons João Scognamiglio Clá Dias, EP
No transcurso do tempo, sem dúvida, já tivemos ocasião de comparecer a um funeral ou presenciamos algum violento acidente de automóvel com vítimas fatais. Em cada uma dessas oportunidades experimentamos uma profunda impressão, ao contemplar o corpo de um defunto, imóvel, sem reação nenhuma, irremediavelmente desprovido de vitalidade.
Com efeito, a vida humana é constituída pela presença da alma animando o corpo. Este perde sua harmonia quando aquela se separa. Dado que possuímos membros muito diferentes, com peculiaridades e atribuições variadas — os braços são diversos da cabeça, as pernas dos braços, e até mesmo é distinto o papel de cada dedo da mesma mão —, é indispensável um fator de unidade que exerça uma ação ordenadora sobre todo o organismo.
Tal é o papel da alma. Sem a sua presença desde o primeiro instante de nossa concepção seríamos um conglomerado de órgãos e elementos sem coesão, incapazes de agir em conjunto.
A ALMA DA IGREJA
Essa característica da natureza humana não é senão uma pálida imagem de outra realidade incomparavelmente mais alta: “o que a alma do homem é para o corpo, é o Espírito Santo para o Corpo de Cristo, que é a Igreja”.1 É a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade quem a anima, de maneira que — por um absurdo irrealizável— se Ela se retirasse, ficaria a Igreja inerte como um cadáver. Cristo é a Cabeça, nós somos os membros e o Espírito Santo é a alma vivificante que, por sua atuação, conserva a unidade deste Corpo Místico.
Se nos detivermos um pouco para analisar a sociedade humana, perceberemos que, em geral, seu dinamismo e movimentação lhe são concedidos de fora para dentro.
Quem deseja, por exemplo, fundar uma instituição, procura para fazer parte dela, em primeiro lugar, pessoas dispostas e que possam garantir-lhe força e perenidade. A Igreja, pelo contrário, possui uma vida que nasce em si mesma, insuflada pelo Divino Espírito Santo. Ele está presente na Igreja, inabitando seus membros e permanecendo neles pela graça santificante.
(*) SANTO AGOSTINHO. Sermo CCLXVII, n.4. In: Obras. Madrid: BAC, 2005, v. XXIV, p.831.
Sobre esse tema, ver também SAURAS, OP, Emilio. El Cuerpo Místico de Cristo. 2.ed. Madrid:
BAC, 1956, p.756.
(Publicado originalmente na revista “Arautos do Evangelho, nº 137, maio de 2013, p.11-12.Para acessar a revista Arautos do Evangelho do corrente mês clique aqui )
Ilustrações: Arautos do Evangelho, Gaudium Press