Ao aparecer pela primeira vez em Fátima, a 13 de maio de 1917, Nossa Senhora disse aos pastorinhos: “Vim para pedir que venhais aqui seis meses seguidos no dia 13, a esta mesma hora”.
No dia 13 dos meses de junho e julho Nossa Senhora voltou. No de agosto ocorreu uma surpresa
Os pequenos videntes — Lúcia, Francisco e Jacinta — se preparavam para fazer sua caminhada à Cova da Iria, local onde Nossa Senhora aparecia sobre a pequena azinheira.
De repente, notaram a presença não-desejada do Administrador da cidade de Ourém, um corpulento e insolente latoeiro alinhado à corrente anticatólica em Portugal.
Poucos dias antes, ele havia intimado Lúcia para um interrogatório em tom amedrontador. No final fez-lhe uma ameaça: “Se não me revelares o segredo, condeno-te à morte!”
Agora estava ele ali de novo, já dentro da casa. Marto, pai dos dois pequenos, estava trabalhando no campo e foi chamado às pressas. Ao chegar, deparou-se com o imprevisto visitante:
— Ah, então, é o Senhor Administrador?
— Sim, sou eu; também quero testemunhar esses milagres.
Em tom insinuante, acrescentou:
— Vamos todos juntos… Levarei os pequeninos comigo na carroça. Ver para crer, como São Tomé! A propósito, onde estão as crianças? Estamos atrasados, é melhor chamá-las.
Elas recusaram o “amável” convite.
Mas, atônitos, se viram colocados na carroça que logo desapareceu levantando uma nuvem de poeira.
— O senhor está indo para o lado errado! — gritou Lúcia.
Ele tomou a estrada de Ourém. Era um sequestro! Lá chegando, reteve-os em sua própria residência.
REVELAR O SEGREDO NUNCA!
Estes estavam angustiados, principalmente por se lembrarem de que naquela hora deveriam encontrar-se com Nossa Senhora na Cova da Iria. Francisco disse esperançoso: “Talvez Nossa Senhora vá nos aparecer aqui”. Porém, nada aconteceu. A hora do almoço passara. Jacinta rompeu em lágrimas quando a última esperança de aparição de Nossa Senhora os abandonou.
— Não chore, Jacinta. Vamos oferecer isso a Jesus pelas almas dos pobres pecadores, tal como Nossa Senhora nos pediu — disse-lhe o irmão.
Na manhã seguinte o Administrador conduziu as crianças à prefeitura, e foi direto ao assunto. Após longo interrogatório, ele passou a ameaçá-las… com prisão perpétua, tortura e… morte! Mesmo assim, elas se recusaram a revelar o segredo.
NA PRISÃO COM OS CRIMINOSOS
O Administrador mandou levá-las à cadeia. Estas inocentes crianças, naturalmente, nunca tinham visto o interior de um cárcere: frio, úmido e repleto de todo tipo de criminosos.
— Quero ver minha mãe! — queixou-se Jacinta, quando acabou de entrar.
Um dos detentos deu-lhes um conselho: contem ao Administrador o segredo, já que ele quer tanto conhece-lo!
— Prefiro morrer! — respondeu Jacinta energicamente.
Os pastorinhos decidiram aguardar pelo seu destino rezando o Terço.
Alguns dos detentos, que possivelmente há muito já se haviam esquecido da religião, se juntaram às orações dos pequeninos.
Com consciências tranquilas e paz de alma, as crianças se esqueceram por algum tempo do perigo em que se encontravam. Um dos encarcerados tinha um pobre instrumento musical, e assim eles entoaram juntos alguns cânticos folclóricos, que soavam no mínimo incomuns, naquele inóspito lugar.
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O CALDEIRÃO DE AZEITE FERVENTE
Esta cândida cena foi abruptamente interrompida pelo abrir de porta e a ordem seca de um policial: “Sigam-me!” Pouco depois se encontraram uma vez mais diante do Administrador. Este as intimou de novo a lhe revelarem o segredo, e obteve como resposta apenas o silêncio.
Pronunciou então terrível “sentença”:
— Pois bem, eu tentei salvá-los, mas, já que vocês não querem obedecer ao governo, serão lançados vivos no caldeirão de azeite fervendo.
— Pegue esta, então, e jogue-a no caldeirão.
E apontou para Jacinta, que estava decididamente disposta ao martírio. Lúcia começou a rezar com fervor e Francisco implorou a Nossa Senhora que desse a Jacinta coragem para morrer sem trair o segredo. Nenhum deles tinha dúvida de estar em sua última hora de vida.
O próximo a ir foi Francisco, deixando na sala somente Lúcia e o Administrador.
— Depois dele será você… É melhor contar-me o segredo.
— Prefiro morrer também.
— Que seja então.
O policial tomou Lúcia pelo braço e a conduziu por um corredor até uma outra sala…onde Jacinta e Francisco se encontravam sãos e salvos. Nem precisamos dizer com que alegria e surpresa eles se entreolharam.
SIM, NOSSA SENHORA VOLTOU!
Após reter os pastorinhos por três dias, o Administrador não teve remédio senão admitir a derrota e enviá-los de volta a Fátima. Era 15 de asto, festa da Assunção de Nossa Senhora.
Naquele mesmo dia 15, tendo ido Lúcia, com Francisco e um outro primo, apascentar as ovelhas, ela percebeu uma súbita mudança na atmosfera, o sinal que geralmente precedia as visões. Lúcia mandou o primo ir rapidamente chamar Jacinta, a qual veio correndo ao encontro deles, esbaforida.
De repente estava de novo diante deles aquela carinhosa figura! Sim, Nossa Senhora tinha voltado…