CATEDRAIS

Erguidas há muitos séculos, elas nunca envelhecem, e continuam a exercer sua suave atração sobre todas as gerações. São uma amostra do alto grau de beleza que uma civilização pode alcançar quando é inspirada pela fé católica.

Quem as construiu? Grandes potentados? Reis?

Para bem responder essa questão basta ver #como foram construídas.

É necessário ter presente a época em que foram construídas: a Idade Média. Esse período da História caracterizou-se pela influência da Igreja em todo o corpo social, pela docilidade dos medievais à ação da graça e a consequente busca da virtude e da beleza como reflexos de Deus.

Catedral de León – Espanha

Somente tendo em conta o fator religioso se pode compreender a construção das catedrais medievais, cada uma das quais, como veremos, não foi obra de um governante, um bispo, ou uma empresa construtora.

Não! Foi obra de todo o corpo social, com características nunca vistas depois. Sobre essa época assim se exprime o Papa Leão XIII:

catedral de Amiens -França

“Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda a expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer” (1).

Esses homens construíam pensando em Deus

Sem dúvida, foi o clero a força propulsora dessas imensas obras. Os monges, sobretudo, estavam à testa desse movimento que levou a civilização a um auge até então nunca visto.

Catedral de Colônia ao por de sol – Alemanha

A arte, a cultura, a arquitetura, a engenharia, a medicina, a agricultura e… até a culinária encontraram nos mosteiros medievais um grande impulso rumo ao esplendor. Muito dos conhecimentos e instituições atuais tem sua origem e desenvolvimento nestes mosteiros. Lembremo-nos que, até o início dos tempos modernos, #todas universidades foram fundadas pela Igreja. Todas elas existem até hoje, entre as quais a Sorbonne, Cambridge, Oxford, etc. Mesmo nos tempos modernos a maior parte das universidades foram fundadas e mantidas pela Igreja (2).

O medieval construía pensando em Deus, cogitando na eternidade, e por isso sua arte era de uma beleza sem igual. Os construtores não tinham em vista o prestígio nem a quantidade de dinheiro que ganhariam com suas obras.

O que levou à construção dessas enormes e maravilhosas catedrais foi a convicção de que para Deus, para o culto divino, deve-se dar o que há de mais belo, mais esplendoroso. Não é de se admirar, pois, que cada detalhe da catedral fosse uma obra de arte.

Os bispos da época, como autênticos pastores do povo de Deus, souberam interpretar essa aspiração do belo e da perfeição que se manifestava de um modo sempre crescente. Era, pois, natural que quisessem embelezar e ampliar quanto possível a Casa do Senhor.

Catedral de Orvieto – Itália

Beleza que até hoje atrai multidões

Por seus majestosos portais passam a cada ano multidões de visitantes que, ávidos de beleza, se encantam com tais maravilhas de pedra. Somente a catedral de Notre Dame, em Paris, recebe anualmente mais de cinco milhões de visitantes.

Mas não é só a famosa catedral parisiense que exerce esse misterioso poder de atração. Quem percorre a Europa vê o mesmo em Sevilha (Espanha), Colônia (Alemanha), Chartres (França), Milão (Itália), Canterbury (Inglaterra). Isso para citar apenas uma de cada um desses países, nos quais há milhares de igrejas góticas.

Trabalho voluntário, movido pela fé e pelo fervor

Em Paris, em Ávila, em Colônia, em York ou qualquer outra cidade,
todo o povo participava desses grandiosos empreendimentos. Muitíssimos trabalhavam na obra com suas próprias mãos, outros ofereciam recursos financeiros, outros ainda davam o valioso contributo das orações.

Havia, é claro, a necessidade de mão de obra profissional. Mas em grande parte os serviços eram executados por trabalhadores voluntários, movidos pela fé e pelo fervor. Numa perfeita concórdia uniam esforços os nobres, os magistrados, os comerciantes, os artesãos e o povo simples da cidade e dos campos circunvizinhos.

Ação formativa das catedrais

Aquelas benditas pedras e vitrais “falavam” no fundo da alma dos fiéis que as frequentavam, numa linguagem muda, recordando-lhe as verdades eternas, transmitindo-lhe a apetência da beleza, das coisas celestes e o desejo de glorificar a Deus.

É precisamente para isso que elas foram construídas.

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(1) LEÃO XIII, Encíclica “Immortale Dei”, de 1º-XI-1885, Bonne Presse, Paris, vol. II, p. 39.

(2) Cf. THOMAS E. WOODS JR, “Como a Igreja construiu a Civilização Ocidental”, Ed. Quadrante, São Paulo, 8ª edição, 2014.

(Condensação e adaptação do artigo “A catedral medieval, obra de todo o povo cristão”, do Pe. Juan Carlos Casté, EP, na revista “Arautos do Evangelho”, nº 52, abril de 2006, p. 38-41.)

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