Animar, esse dever urgente

Conversava com renomado médico sobre assuntos vários e a agradável interlocução passou a um assunto quase impossível de não se comentar: o desnorteamento das pessoas face a situação em que está o Brasil e o mundo.

Este amigo, com experiência clínica de muitos anos, afirmou-me algo aparentemente inacreditável, mas inteiramente óbvio.

Quanto mais recentes os anos, maior era o número de pacientes que o procuravam, angustiados muitas vezes, com problemas de saúde quase insignificantes. Tinham entretanto algo em comum: insegurança, nervosismo, perda até do mais elementar bom senso. Em casos extremos, — cada vez mais frequentes — já beirando a angústia e o desespero.

Imagem de Nossa Senhora da Confiança
Roma

A causa? Das próprias palavras dos pacientes, era facílimo “diagnosticar”: falta de valores nos quais pudessem confiar, insegurança quanto ao futuro cada vez mais incerto.

Davam a impressão de passageiros de um automóvel que tivesse se desgovernado ou até “perdido o freio” na descida de uma ladeira acentuada: à medida que desciam desgovernavam-se mais, o pânico aumentava e a capacidade de encontrar uma solução diminuía.

Dizia-me ainda este amigo: em pelo menos 80% dos casos o conteúdo “físico” da doença — muitas vezes imaginária — era mínimo, ou não existia. E cabia a ele ministrar um “remédio” cada vez mais difícil de encontrar: um conselho de bom senso, um despertar o ânimo para enfrentar e resolver as dificuldades.

Havia casos de pacientes que retornavam ao seu consultório para pedir um conselho sobre assuntos de fácil solução… se olhados com bom senso.

Sagrado Coração de Jesus
Razão de nossa confiança

Concluía este amigo: o grande problema não era a propalada subnutrição, ou ainda essa ou aquela doença. O grande problema era a falta de rumo e de bom senso por não ter em quem confiar.


Confiança, o “princípio ativo” do remédio

Ocorreu-nos, por isso, pedir ajuda a outros Arautos do Evangelho no sentido de fazermos sem data fixa uma seção de posts cujo título bem poderia ser “Confiança! Confiança! Quem confia sempre avança!”

O presente post inicia essa seção. Para tal, lembro apenas um rápido trecho de um grande livro (embora pequeno em seu tamanho): “O Livro da Confiança” de autoria do Pe. Thomas de Saint Laurent. ⁽⁺⁾

“A desconfiança, sejam quais forem as suas causas, traz‑nos prejuízo, privando‑nos de grandes bens.

Quando São Pedro saltou da sua barca e se lançou ao encontro do Salvador, caminhava com segurança sobre as ondas… O vento soprava com violência. As vagas ora levantavam‑se em turbilhões furiosos ora cavavam no mar abismos profundos. A voragem abria‑se diante do Apóstolo. Pedro tremeu; hesitou um segundo e, logo, começou a afundar‑se. “Homem de pouca fé, disse‑lhe Jesus, porque duvidaste?” (Mt. 14, 31).

Eis a nossa história. Nos momentos de fervor, ficamos tranquilos e recolhidos ao pé do Mestre. Vindo a tempestade, o perigo absorve a nossa atenção. Desviamos então os olhares de Nosso Senhor para fitá-los ansiosamente sobre os nossos sofrimentos e perigos. Hesitamos… e afundamo-nos logo! Assalta-nos a tentação. O dever se nos torna enfadonho, a sua austeridade nos repugna, o seu peso oprime-nos. Imaginações perturbadoras perseguem-nos. A tormenta ruge na inteligência, na sensibilidade, na carne…

(…)

Se nos tivéssemos apegado ao Bom Mestre com uma confiança tanto maior quanto mais desesperada parecesse a situação, nenhum mal desta nos adviria. Teríamos caminhado calmamente sobre as ondas; teríamos chegado sem tropeços ao golfo tranqüilo e seguro, e, em breve, teríamos achado a plaga hospitaleira que a luz do Céu ilumina.”

⁽⁺⁾ Há inúmeras edições deste pequeno e preciso livro. É encontrável em livrarias católicas. O trecho citado é do Capítulo I, parte IV.

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