Consagração a Nossa Senhora: início do Reino de Maria

Na imagem de São Luís Grignion de Montfort que está na colunata da Basílica de São Pedro no Vaticano, o Santo é apresentado pisando a cabeça do demônio que, por sua vez, procura rasgar um livro. Que livro é este? Pode-se ler perfeitamente Tratado da verdadeira devoção. Inimigo eternamente derrotado, o demônio odeia a Cristo e sua Igreja e tem um ódio especial a que se vá a Jesus por meio de Maria, caminho escolhido por Ele para vir a nós.

O texto a seguir de autoria do Pe. Juan Carlos Casté, sacerdote Arauto do Evangelho, torna bem claro o porque da fúria infernal contra o Tratado e da devoção proposta pelo Santo: a consagração a Jesus pelas mãos de Maria.

CRISTO REINARÁ NO MUNDO POR MEIO DE MARIA

Pe . Juan Carlos Casté, EP

São Luís Grignion expõe o fundamento teológico do Tratado logo nas primeiras palavras deste: “Jesus Cristo veio ao mundo por meio de Maria e é também por meio d’Ela que Ele reinará no mundo”. (1) Ora, se o Reino de Cristo deve vir ao mundo por intermédio de Maria Santíssima, espalhar a devoção a Ela é, nesta perspectiva, “a maior obra a que um homem pode aspirar”.(2)

Portanto, a devoção ensinada por este grande Santo é de capital importância para a implantação do Reino de Cristo. Eis um ponto não fácil de encontrar nos manuais de Mariologia.

Imagem de São Luís Grignion – Basílica Vaticana

Observa São Luís Grignion que os espíritos mundanos ignoram as grandezas da Virgem Maria por serem indignos e incapazes de conhecê-las e põe em destaque uma verdade um tanto relegada ao esquecimento nos dias atuais: “Coisas admiráveis disseram os Santos (3) a respeito desta santa cidade de Deus e, como eles próprios reconhecem, nunca foram mais eloquentes nem mais felizes do que quando delas se ocuparam”. (4)

De fato, uma especialíssima e intensíssima devoção a Nossa Senhora é característica de todos os Santos. Mais adiante, São Luís Grignion passa a demonstrar como essa devoção é necessária a todos os batizados, é uma exigência de toda autêntica vida espiritual

PAPEL DE NOSSA SENHORA NA ENCARNAÇÃO

Aprofundando as razões teológicas da devoção à Santíssima Virgem, aborda um tema da maior transcendência: quis o Altíssimo servir-Se de Maria na Encarnação; e sustenta que tal devoção se baseia no papel central que Ela desempenhou nesse evento fundamental.

Com efeito, a Encarnação do Verbo é um episódio culminante da História da humanidade; no campo dos acontecimentos humanos, nada há que, nem de longe, possa sertão importante quanto este sublimíssimo fato: “O Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14).Daí decorre que, no plano divino da criação e Redenção, a Mãe de Deus tem o papel mais importante e fundamental.

Dada esta insuperável posição da Virgem Maria, São Luís Grignion traça elevadas considerações sobre as relações d’Ela com as três Pessoas da Santíssima Trindade.

RELACIONAMENTO COM A SANTÍSSIMA TRINDADE

O Eterno Pai comunicou-Lhe sua fecundidade para Ela poder gerar seu Divino Filho e todos os membros do Corpo Místico de Cristo. Por isto Maria é a Mãe de todos os fiéis na ordem da graça.

A cooperação de Nossa Senhora com Deus Filho se dá pelo fato de que Ela formou seu santíssimo Corpo, Ela O alimentou e d’Ele cuidou em sua infância. Ela foi um tabernáculo vivo, no qual Jesus Cristo começou a glorificar o Pai nesta terra, desde o primeiro momento de sua encarnação.

Coroação de Nossa Senhora (Detalhe) – Fra Angélico

Colaboração com o Espírito Santo: como Maria é verdadeiramente a Esposa do Espírito Santo, sua participação nesse acontecimento é de uma sublimidade e de uma intimidade impossíveis de se imaginar. Cabe a Ela também, nessa situação, papel importantíssimo na santificação e na perseverança de cada um de nós.

Prosseguindo em sua sólida argumentação, Grignion de Montfort demonstra de maneira brilhante que Nosso Senhor Jesus Cristo é o fim último da devoção a Maria. Este ponto é fundamental, pois desmonta os sofismas de todos quantos objetam contra a devoção a Nossa Senhora, sob o falacioso pretexto de ser ela um entrave à devoção ao nosso Divino Redentor.

Aprovação pontifícia dos Arautos do Evangelho pelo Papa João Paulo II – Após coroar a imagem, o Papa coloca o terço nas mãos da imagem

Vem a propósito as palavras do Papa João Paulo II: “Houve tempo em que, de certa forma, pus em dúvida o culto a Maria, temendo que minha devoção a Maria pusesse em risco a supremacia do culto a Cristo. Foi então que me veio em ajuda o livro de São Luís Grignion de Montfort, o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. Nele encontrei resposta às minhas perplexidades: sim Maria nos aproxima de Cristo, nos conduz a Ele”. (5)

(1) SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, Ed. Vozes, Petrópolis. 46ª edição. 2015, n.13. p. 25.

(2) CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Comentários ao “Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem”. São Paulo, 1951.

(3) Entre outros, Santo Agostinho, São Bernardo, São Tomás de Aquino, São Boaventura, Santo Anselmo, São Leão Magno, São Bernardino de Siena, São João Damasceno, Santo Ildelfonso, Santo Antonino, Santo Efrem, São Cirilo de Jerusalém, etc. Omitimos muitos outros para não alongar a lista.

(4) SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT, op. citado, n.7.

(5) PAPA JOÃO PAULO II – Dom e Mistério, 2ª Edição, São Paulo, Ed. Paulinas, 1997, p.38.

(Compartilhado da revista Arautos do Evangelho, artigo Um livro profético. São excertos do artigo do Pe. J.C.Casté com ligeiras adaptações. Para acessar a revista Arautos do Evangelho do corrente mês clique aqui ) )

 

Ilustrações: Arautos do Evangelho, Gustavo Krajl, ateli@rt.

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