No porta-revistas do assento a minha frente um folheto sobre o Oriente chamou-me a atenção: uma paginação bonita, fotos de coisas bem típicas da misteriosa e encantadora terra do sol nascente, das cerejeiras em flor, do monte Fuji-yama.
Mais que essas belas impressões visuais, havia um pequeno texto muito saboroso que compartilho aqui.
“Uma menina japonesa, com o típico quimono, levava uma criança às costas, de acordo com os costumes do seu país. Ia contente, com o não menos típico cabelo negro em franjinha.
Alguém lhe perguntou:
— Menina, pesa muito?
E Ela respondeu:
— Não, é meu irmão”.
Ou seja, pesar ou não, estava fora de cogitação para a pequena japonesinha. O que lhe importava é que era seu irmão…
Vieram-me a mente inúmeras cenas e episódios do dia a dia. E os fui “passando em revista”, por assim dizer, de dentro dos olhos — quase um tracinho de tão estreito — da simpática menina.
À medida que as cenas analisadas sucediam-se, dava para avaliar o peso que os personagens sentiam, em função do amor ao que carregavam, e do amor com que carregavam. Quantas vezes presenciamos “pesos” pequenos, pouco amados, levados com mau humor. Outras vezes, “pesos” bastante grandes, levados como a japonesinha levava o irmão.
Alguns dos “figurantes” nestas cenas eram conhecidos de longa data, às vezes de convívio diário, por isso podia analisa-los bem. De propósito não considerei cenas em que eu mesmo figurava, pois bem podia desvirtuar a análise. Percebi haver um substrato comum quer para os que achavam pesado, quer para os que, como a menina, não levavam em conta o peso, mas sim o amor que merecia o que levavam. Qual era o substrato comum?
Os que o faziam de má vontade eram pessoas voltadas para si, pouco ligando para os outros, mesmo próximos em parentesco ou por outras razões. Egoístas, portanto.
Os que amavam o que levavam, se lhes perguntasse se custava fazê-lo, teriam respondido:
— Não, é meu irmão…
Veio-me à memória a frase, creio que de Santo Agostinho:
Para o amor, nada é impossível.
Não será que, se fizéssemos como a menina, o peso da vida seria muito mais fácil de levar? Nosso convívio — e o mundo — seria outro?
Aproveitemos o ano que se inicia e passemos a ser como a japonesinha; aí não sentiremos — ou exageremos — o peso que levamos. Ao fazer algo para o próximo, lembremos as palavras de Jesus: “Foi a Mim que o fizestes”.
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Ilustrações: Freepickcom, wiki