UM LÍRIO DO CARMELO

Neste dia — 16 de julho — em que a Igreja comemora Nossa Senhora do Carmo, vejamos uma das glórias recentes da Ordem religiosa que a tem como Patrona: Santa Teresa de los Andes, a mais jovem carmelita canonizada e que menos tempo viveu no Carmelo.

Observe, leitor, esta fotografia de Juanita Fernández Solar — seu nome civil. É uma jovem de 18 anos, nas vésperas de entrar para o convento carmelita no qual tomou o nome de Irmã Teresa de Jesus.

Viveu santamente nesse convento durante nove meses apenas. Morreu aos 19 anos, como vítima expiatória pelos sacerdotes, por sua família, pela sociedade em que brilhara.

UMA MOÇA RELUZENTE DE INOCÊNCIA

Juanita aos 18 meses

Logo à primeira vista, sua fisionomia agrada. Ela é bela e acolhedora. Em seu rosto, ainda muito jovem, destacam-se seus lindos olhos azuis que parecem nos acolher, envolvendo-nos com um afeto suave e discreto.

A fotografia denota uma inocência reluzente. Dá a impressão de que a Providência a tenha limpado do pecado original já nos primeiros instantes de sua vida.

ALMA CONTEMPLATIVA

Santa Teresa de los Andes nasceu em Santiago do Chile, em 13 de julho de 1900, numa família católica e aristocrática. “Jesus não quis que eu nascesse como Ele, pobre. E nasci no meio das riquezas, mimada por todos”, escreve em seu diário.

Primeira Comunhão de Juanita

Era alegre e comunicativa, mas também séria e de um temperamento enérgico. Na fazenda de seus pais, andava a cavalo e era difícil ultrapassá-la nos passeios a galope com seus irmãos e primos. Nas férias no litoral, num ambiente de compostura hoje difícil de imaginar, era uma ousada nadadora. Jogava e fazia caminhada com as amigas. Mas, sobretudo contemplava.

Em carta a uma amiga, escrevia: “Não podes imaginar paisagens mais bonitas que as que víamos… colinas cobertas de árvores e no fundo uma abertura onde se via o mar, sobre o qual se refletiam nuvens de diversas cores. E, por trás, o sol ocultando-se. Não podes imaginar coisa mais bela, que faz pensar em Deus, que criou a terra tão formosa. Que será o Céu? pergunto-me muitas vezes”.

Contava à Priora do Carmelo que a iria acolher: “O mar, em sua imensidade, me faz pensar em Deus, na sua infinita grandeza. Sinto então uma sede do infinito”. Estando já no Carmelo, e sabendo que sua mãe passaria férias de novo junto ao mar, lhe escrevia: ”Cada vez que a senhora olhar o mar, ame a Deus por mim, mãezinha querida”.

FESTEJADA POR TODOS

Suas companheiras a descrevem como sendo uma moça alegre e amável, suave no trato, de maneiras muito finas, firme e constante na ação. Entretida e divertida por seu caráter alegre e sem complicações. Muito bonita, alta, com belos olhos azuis, nariz bem cortado, tez branca.

Em férias na fazenda, muito cedo se dirigia à capela para saudar Jesus Sacramentado e tocar o harmônio como forma de oração. Às tardes, após o rosário em família, pediam-lhe para tocar o harmônio, o que ela fazia com encanto de todos.

Com o Hábito de carmelita

Escrevia muito bem, e no colégio obtinha as melhores notas em literatura, história, religião e filosofia. Suas colegas sempre procuravam sua companhia e a chamavam carinhosamente de Mater admirabilis (Mãe admirável, invocação a Nossa Senhora).

O AFETO E O CARINHO FAMILIAR QUE UMA SOCIEDADE PERDEU

Na vida hostil, impura e materialista de nossos dias, é difícil entender o que era o afeto existente nas famílias católicas, há poucas décadas. Vejamos, a título de amostra, alguns trechos de uma carta que escreveu a seu pai, o qual ficara no campo trabalhando. Depois de narrar belos passeios, dizia com filial carinho: “Como o senhor vê, paizinho, não falta senão o senhor para sermos felizes. Enquanto nós nos divertimos aqui, o senhor está trabalhando, de sol a sol, para nos proporcionar comodidade. Não temos, paizinho, meio de lhe pagar, pois é grande demais seu sacrifício. Mas nós, seus filhos, compreendemo-lo e o enchemos de carinho e cuidados, pois achamos que esta é a melhor maneira de agradecer a um pai. Por que não vem aqui pelo menos por uns dias? Não sabe a tristeza quem e dá quando vejo as outras meninas felizes com seus papais .Por favor, venha, pois nós o temos tão pouco durante o ano!”

Em outra carta, assim se despede do pai: “Receba, paizinho, abraços e beijos de mamãe e de meus irmãos, mais mil beijos e carinhos desta sua filha que mais lhe quer e que se lembra a cada momento de seu paizinho querido”.

O Pai, por sua vez, mostra a reciprocidade do afeto, numa carta escrita depois de a ter autorizado a entrar no Carmelo: ”Minha filhinha querida, Recebi as duas cartas pelo que muito te agradeço, embora me façam tanto sofrer, ao pensar que quem me escreve e que me toca desta forma a alma vai se separar de mim para sempre. Mas o sacrifício está feito e eu o ofereci a Deus (…) Minha querida filhinha, não sabes o bem tão grande que tuas cartas me fazem (…), tanto carinho e ternura. Feliz, tu, mil vezes, minha filhinha, que te consideras feliz e sentes essa paz de alma que tão poucos podem sentir.

AS GRAÇAS MÍSTICAS ILUMINARAM TODA A SUA VIDA

Aos dez anos fez sua Primeira Comunhão. Desde então, como ela revelou a seu confessor, o Pe. Antonio Falgueras, SJ, “Nosso Senhor me falava depois de comungar; dizia-me coisas das quais eu não suspeitava. E quando eu Lhe perguntava, me revelava coisas que iam suceder e que de fato aconteciam. Mas eu achava que ocorria o mesmo com todas as pessoas que comungavam”.

Santuário de Santa Teresa de los Andes
Aí está o seu corpo

Em carta a seu pai, pedindo permissão para ser carmelita, narra: “Desde pequena amei muito a Santíssima Virgem, a quem confiava todos os meus assuntos. Só com Ela me desabafava. Ela correspondeu a esse carinho; protegia-me, e escutava sempre o que eu lhe pedia. E Ela me ensinou a amar Nosso Senhor.

Já no Carmelo, escreve ao Padre Colom, SJ: .Também Nosso Senhor se apresenta a mim, às vezes, interiormente e me fala. Durante aproximadamente uma semana, vi-O na agonia, mas de uma maneira tal como jamais teria sonhado. Sofri muito, porque essa imagem me aparecia constantemente e me pedia que O consolasse. Depois foi o Sagrado Coração, no tabernáculo, com o rosto muito triste. E, por último, no dia do Sagrado Coração, apresentou-Se a mim com uma ternura e beleza tal que minha alma se abrasava em seu amor”.

ESCRAVA DE MARIA

Ingressou no convento de Los Andes no dia 7 de maio de 1919, tomando o nome de Irmã Teresa de Jesus. Fez votos de pobreza, obediência e castidade em 27 de junho e recebeu o hábito de noviça em 14 de outubro do mesmo ano. Consagrou-se como escrava de Maria, segundo o método ensinado por São Luís Grignion de Montfort. Doravante, seus atos e sacrifícios seriam todos para Nossa Senhora. “Combinei com a Santíssima Virgem que Ela passasse a ser meu sacerdote, que me oferecesse a cada momento pelos pecadores e pelos sacerdotes, mas banhada com o sangue do Coração de Jesus” — escreveu.

APOSTOLADO E PARTIDA PARA O CÉU

No curto tempo passado no convento, sua superiora determinou que continuasse seu apostolado por meio de cartas. Os resultados não se fizeram esperar. Várias de suas amigas, moças da melhor sociedade, levadas pelo seu exemplo, decidiram também consagrar suas vidas a Jesus, no Carmelo ou em outros institutos religiosos.

No dia 1º de abril de 1920, a Irmã Teresa adoeceu gravemente. Ante a iminência de sua morte, fez os votos de carmelita professa e Esposa de Cristo. Na agonia, depois de certo tempo de luta terrível, disse sorrindo, como se tivesse uma visão: “Meu esposo!” Morreu suavemente três dias depois, em 12 de abril de 1920.

Em 3 de abril de 1987, S.S. João Paulo II a beatificou, em 21 de março de 1993 canonizou-a.

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(Condensação de dois artigos de Fernando Larraín Bustamante, na revista “Arautos do Evangelho”, nºs 14 e 15, fevereiro e março de 2003)

Ilustrações: Arautos do Evangelho, Carmelo de Auco (Chile), TV Arautos.

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